segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A COMUNICAÇÃO LÚDICA

Normalmente, a comunicação organizacional é vista como uma ação estratégica, porém, para que um planejamento de comunicação seja rico, é preciso alargar o entendimento sobre o processo comunicacional e não se estagnar em teorias já publicadas. A comunicação está sempre evoluindo, pois, a sociedade em seu processo de amadurecimento exige novos olhares e estratégias que objetivam preencher demandas cada vez mais diferenciadas e particulares.
Mafra (2006) apresenta a complexidade de um processo para que haja o envolvimento do público. Em seus estudos, emerge reflexões acerca da ineficiência da produção de ações que são tidas e entendidas por si só como planejamento estratégico de comunicação organizacional. No entanto, é necessário aprofundar e ampliar mais sobre os conceitos (artes, entretenimento, lúdico, ambiente, suportes, perfil de pessoas a serem utilizadas nas estratégias de comunicacionais) que abordam as ações como apoio da comunicação para que se possa alcançar metas, propósitos, interação de pessoas e veiculação de mensagens. E, para que informações cheguem, penetrem, contagiem e sejam eficientes é necessário estabelecer a forma pelo qual um processo comunicacional será abordado..

Esta abordagem do processo comunicacional é de extrema importância, visto que pode ser requisitado outros tipos de “conversação”, os quais envolvem estímulo, apelos emocionais, ações espetaculares. É importante ressaltar que esse agir não tem regra ou manual a ser seguido, e que apenas disponibilizar informações não constitui um processo eficiente, pois não geram debates, não produzem interlocutores. Ao contrário, gera apenas um público assistente e não participativo. Por mais que as estratégias sejam importantes para diversas causas, projetos e movimentos, elas devem ser formuladas racionalmente para que mereçam atenção coletiva (MAFRA, 2006). Somente agir não basta, há que se preocupar com o tipo de mensagem a ser disseminada, com as reflexões a serem produzidas, bem como a inquietação que se quer produzir.

Faz-se necessário refletir sobre as três dimensões de análise propostas por Mafra, as quais, fornecem elementos que nos permitem entender, caracterizar e diagnosticar estratégias de comunicação para mobilização social: a dimensão espetacular, a dimensão festiva e a dimensão argumentativa. Essas dimensões também nos ajuda a pensar a comunicação organizacional.
A dimensão espetacular propicia despertar, capturar a atenção dos sujeitos a partir do espetáculo. O espetáculo viabiliza uma relação social mediando pessoas e imagens. A dimensão espetacular é tudo que atrai e prende o olhar, a atenção, o que é feito a partir de uma memória cultural. Qualquer fato que venha a prender nossa atenção como uma apresentação de teatro, dança, um musical cria efeito emocional, quando achamos uma coisa espetacular, algo admirável, extraordinário, surpreendente, sentimo-nos estimulados em um primeiro momento, a prestar atenção, para em seguida, se, seduzidos pela ação desencadeada, atuarmos como co-participantes do processo.

Na dimensão festiva o individuo é revivido como ser social. Ela permite a vivência, o lúdico. Os interesses racionais deixam de ser prioritários e aparecem os sentimentos e a emoção. Nas festas a vida cotidiana é substituída por experiências diferentes, criamos outro mundo, uma euforia de sentimentos e emoções transformando-nos priorizando o estar junto, a interação.
A dimensão argumentativa consiste no ato de transmitir uma opinião, um ponto de vista e defendê-lo. “A dimensão argumentativa busca mobilizar uma certa racionalidade acerca da temática proposta, entendendo o público como interlocutor de um debate e dessa maneira, é convocado a se posicionar a respeito da tematização proposta”. (MAFRA, 2006, p.80).
As dimensões são uma divisão analítica, e entendemos que em algumas atividades podem estar sobrepostas, pois, não se pode analisar e rotular uma ação isoladamente dentro de uma ou outra dimensão. Um procedimento pode vir a ter maior expressividade como dimensão espetacular, festiva ou argumentativa, dependendo da forma como foi analisado, de como foi direcionado o olhar para o objeto. Contudo, no momento em que se qualifica uma ação dentro de alguma expressividade dimensional, simultaneamente, as outras dimensões que não se afloraram estão com suas características presentes e passíveis de análises a qualquer momento.

Embora não estejamos utilizando os conceitos de Mafra sobre as três dimensões para públicos externos, estaremos contextualizando esses conceitos como referência para o uso da comunicação lúdica como suporte da comunicação interna. Para referenciar os conceitos de Mafra sobre as dimensões espetacular, festiva e argumentativa dentro do ambiente corporativo é necessário relacionar sua conexão com a comunicação lúdica.
Para referenciar os conceitos de Mafra sobre as dimensões espetacular, festiva e argumentativa dentro do ambiente corporativo é necessário relacionar sua conexão com a comunicação lúdica.
A dimensão espetacular permite aos gestores da comunicação elaborar ações e estratégias que permitirão dar visibilidade aos objetivos propostos, sair de um ambiente rotineiro, propor o inusitado e surpreender o público. Porém, o público tem apenas uma atuação de contemplação e isso é ineficiente para assegurar as relações comunicacionais. No entanto, é um importante elo para o processo como um todo. Como exemplo de ação característica espetacular podemos citar a exploração de ambientes internos (estratégicos) da empresa para exposição de obras artísticas (quadros, releituras, fotos, atualidades, humor, obras de anônimos, e qualquer tipo de assunto que possa gerar interesse); apresentação de grupo teatral, shows musicais, entre outras.
A dimensão festiva permite uma possibilidade maior para transcender o estágio de contemplação da dimensão espetacular, pois favorece o fortalecimento dos laços e vínculos entre os sujeitos envolvidos, proporcionando uma convivialidade mais livre. No entanto, o ambiente festivo também se mostra ineficiente para sustentar e garantir a eficácia da comunicação. A ação do público nesta dimensão é de caráter participativo e a posição dos sujeitos como interlocutores ainda não é percebida, sendo necessários outros mecanismos comunicacionais para a mobilização do público envolvido. Como exemplo de ação de característica festiva, podemos relacionar a participação dos sujeitos em ambientes onde estejam concentradas duas ou mais pessoas. Nesta dimensão, o coletivo e suas trocas relacionais são observados de forma mais aparente. Um evento, seja ele show, palestra ou teatro exige, para sua exibição, a concentração de pessoas. O estar junto em ambientes onde se promove ações espetaculares ou festivas propicia a interação entre os sujeitos envolvidos.

A dimensão argumentativa permite aos comunicólogos instigar os indivíduos a uma relação dialógica, o que os caracteriza como interlocutores. A mobilização da racionalidade, da interpretação de sentidos é que assegura o debate e a absorção ou questionamento das propostas que foram alvo das ações empreendidas. A dimensão argumentativa por si só também não garante a visibilidade da causa e nem a possibilidade de envolvimento afetivo com a temática proposta. Portanto, o engajamento de ações que contemplam as três dimensões (espetacular, festiva e argumentativa), propiciam que os sujeitos participem como interlocutores num processo de debate. É incorreto afirmar que os sujeitos se encontram mobilizados quando “contemplam” ou “festejam”. É de extrema importância que haja possibilidade de interlocução.
O desenvolvimento deste projeto experimental levará em conta estes conhecimentos apresentados por Mafra, para que a comunicação interna da Yangzi Brasil cumpra seu principal objetivo: promover o relacionamento saudável entre a empresa e seus colaboradores.

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