segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

INTERSEÇÃO ENTRE A COMUNICAÇÃO, A ARTE E O LÚDICO

O homem em seu processo evolutivo, já há muito tempo, utilizava os gestos, a expressão corporal e o espetáculo como forma de entretenimento, lazer e comunicação. Os povos antigos, para manterem suas tradições, exploravam a dança, a festa, cantos e rituais para passarem adiante sua cultura, pois não havia ainda meios para registrar esses conhecimentos. Esta forma primitiva de expressão difundiu-se e foi amplamente explorada por todas as aglomerações de indivíduos, cada qual com suas particularidades. Qualquer lugar poderia ser palco de apresentações, desde os luxuosos castelos, onde a elite se deleitava com as apresentações clássicas, bem como as ruas, usadas por artistas populares que não conseguiam reconhecimento, e espaços mais propícios para seus atos e, porque não dizer, as entranhas das florestas, notadamente, o lugar onde as manifestações tiveram o uso do lúdico como forma de comunicação mais expressiva por parte dos indígenas.

A comunicação, a partir da Revolução Industrial, tornou-se massiva e o cruzamento dos campos da comunicação e da arte ficaram mais evidentes, o que não traduz que antes da Revolução Industrial isto não acontecia. O que havia até então não era alvo de olhares mais específicos de estudiosos e as correntes de pensamentos dos autores consagrados não vislumbravam efetivamente ali formas comunicacionais que merecessem estudos mais aprofundados. No entanto, o imbricamento entre comunicação e arte ganhou evidência com a publicidade, que passou a criticar poesias e ilustrações nos anúncios. Por outro lado, artistas passaram a utilizar os meios de comunicação e vice e versa. As novas tecnologias surgiram e com elas os artistas tiveram possibilidades de criar experiências artísticas. Museus e galerias abriram espaços legitimizados para “a fotografia, as imagens digitalizadas, os vídeos, os filmes e principalmente as várias formas de instalação e arte ambiental midiática” (SANTAELLA, 2005, p.14).
A arte e a comunicação estão o tempo todo se convergindo. Quando a publicidade se apropria de obras de obras de arte para fazer seus anúncios, faz com que o público possa ter um conhecimento cada vez maior das artes. Para a autora, “a arte facilita a comunicação quando o cinema mostra imagem, diálogo, ruídos, sons, combinado habilidade de roteirista, fotógrafos, figurinistas, designer e cenógrafos com arte dos atores, muitos deles treinados no teatro.” (SANTAELLA, 2005, p.12)

A comunicação se apropria da arte para dar maior visibilidade a seus conteúdos. Há muito tempo, o ser humano percebeu que as mensagens de caráter lúdico têm maior abrangência, penetrando em diferentes níveis sócio-culturais, identificando desta forma, possibilidades eficientes de se fazer comunicação.

A proposta de conteúdo e descontração podem coexistir, pois em se tratando de ludicidade, o simples é mais eficaz que o complexo. Pode-se trabalhar conteúdos programáticos de um treinamento/curso/palestra/aula com bom humor sem que isso comprometa a seriedade e a qualidade do tema. A parceria entre o conhecimento e a arte possibilita a exploração de dinâmicas variadas e com conteúdos exclusivos às necessidades da organização.
Trabalhar uma linguagem mais dinâmica, mais palpável, parodiar o cotidiano e fazer caricaturas de nós mesmos são aspectos fundamentais para o sucesso das ações, é o que defende Luciana Santo, diretora da Companhia Mineira de Comédia Empresarial. Para a diretora,
trabalhar com o lúdico envolve todos os sentidos humanos, ver e ouvir é apenas parte deles. O homem como ser multisensorial que é, não aprende apenas ouvindo ou vendo, mas sim tocando, sentindo o cheiro, o gosto do saber. Ele aprende falando, cantando. Aprende, sobretudo, se emocionando! Sonhando! Brincando! Sorrindo! (ver anexo 4 – entrevista 2)

Rir amplia a nossa capacidade de aprendizado. Transmitir conhecimento e informação através da linguagem teatral, com qualidade e praticidade, de modo cômico, claro, objetivo e simples, facilita o aprendizado e a fixação de conteúdos propostos pelas organizações.
A interação proporcionada pela ludicidade é percebida de forma variada e desigual. À bagagem do conhecimento que um indivíduo carrega consigo, é acrescentada mais informação, e essa percepção acontece em maior ou menor profundidade devido à capacidade interpretativa dos sujeitos envolvidos. A ludicidade é, portanto, situação de consequencialidade, visto que o indivíduo estabelece conexões com experiências de outra natureza, criticando-as, mudando-as, reformulando-as, divertindo-se, completando-se, co-produzindo sentidos e reforçando valores, ao mesmo tempo em que se ausenta da rotina à procura de entretenimento.

Não podemos, no entanto, ser reducionistas e afirmar que esse momento de “ausência da rotina” distancia o indivíduo de seu meio, visto que, através da ludicidade, é possível propor conteúdos específicos e pertinentes ao meio de convívio (empresarial[1]) dos indivíduos direcionados a públicos também específicos, os quais obtém informações de forma interativa e desinteressada. O que se percebe é que a exploração do lúdico como suporte da comunicação se apresenta como mais uma estratégia que os gestores da comunicação podem utilizar, devido à penetrabilidade em diferentes camadas sociais, aceitação e envolvimento por parte dos públicos abarcados.
[1] No ambiente deste projeto, trata-se do meio empresarial.

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